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Tuesday, 23 de April de 2024
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Programas Estratégicos de Submarinos e Arraste Tecnológico: Estudos de caso

Diversos
Por

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Por Fernanda das Graças Corrêa [1]

O objetivo deste artigo é apresentar e discutir a importância de algumas inovações e aprimoramentos tecnológicos submarinos que revolucionaram a ciência e provocaram impacto na sociedade, mudando a sua forma de agir e interagir no mundo.

Histórico de submarinos estratégicos

Desde o século XVII, uma embarcação que pudesse submergir na água fazia parte do imaginário humano. Foi Leonardo Da Vinci (1452-1519) quem elaborou o primeiro desenho de um submarino. Porém, somente, em 1620, que o holandês Cornelius van Drebbel (1572-1633) construiu o primeiro submarino.

Contudo, a cientista Frances Ashcroft afirma, que, desde Drebbel, “muito pouco progresso adicional no tocante à arte do submarino foi feito até meados do século XIX, quando submarinos movidos a vapor conhecidos como Davids, foram usados na Guerra Civil Americana”.

Isso se confirma a medida que, pelo menos, até o século XIX, a ciência progrediu a passos largos pelas mãos de indivíduos isolados geograficamente. Até então, os indivíduos, ainda que interagissem entre si, não se organizavam em fóruns de encontro e/ ou discussão e a ciência ainda não dispunha de autonomia política e econômica.

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O American Turtle foi o primeiro submarino construído pelo estadunidense David Bushnel (1740–1824) para finalidades bélicas. Caracteristicamente, este submarino era feito de madeira, dispunha de pequenas dimensões e era movido por impulso braçal, ou seja, a tripulação, a fim de manobrar o submarino, acionava manivelas dispostas horizontal e verticalmente.

Este submarino foi utilizado pelos estadunidenses na Guerra de Secessão (1861-1865). Embora não tenha obtido o êxito esperado, este submarino foi capaz de colocar uma carga explosiva sob o casco da fragata inglesa Eagle durante esta Guerra.

Em 23 de setembro de 1859, o espanhol Narcis Monturiol (1819-1885) fez sua primeira demonstração pública ao lançar o primeiro submarino movido a vapor, o Ictineo I.

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Diante do ministro da Marinha e Fomento, de acionistas, da imprensa e do público espanhol em geral, conseguiu que seu invento submarino permanecesse submerso na água por 2 horas e 20 minutos, com uma profundidade de 20 metros. Suas proporções eram de 7 metro de comprimento, de 2,50 metros de largura e 8 toneladas. A idéia inicial deste inventor era desenvolver submarinos para exploração de corais, especialmente, voltada para acidentes relacionados à pesca.

Em maio de 1861, disse em uma carta à imprensa periódica: “Esta não é uma ligeira pesquisa de poucos metros, onde lança-se bases hidráulicas; busca-se comprovar ou retificar o que os geólogos e físicos tiveram que deduzir de teorias mais ou menos verdadeiras; se trata, em fim, de conhecer leis ignoradas, novos organismos, florestas desconhecidas, uma nova geografia e os novos dados que resolverão mil problemas já levantados e darão origem a outros novos … criar uma nova indústria, uma nova arma marítima e facilitar meios de esudo à ciência, tais hão de ser os resultados do Ictíneo.

Por perceber no Ictíneo I uma possível aplicação militar, o general O’Donnell , se tornou o seu principal investidor. O Ictíneo II dispunha de 17 metros de comprimento, 3,5 metros de largura, 65 toneladas por deslocamento e rea movido por impulso de 16 tripulantes.

Como aquela força se revelou problemática e insuficiente, acoplou a seu submarino uma engenhosa máquina a vapor idealizada por seu futuro genro José Pascual Deop. Para evitar os problemas derivados dela, como combustível e como carburante uma mescla de peróxido de manganês, zinco e cloreto de potássio que não exigia consumir o oxigênio da atmosfera do submarino, a fumaça produzida era conduzida para fora.

A renovação do ar era garantida através de um gerador de oxigênio e um redutor do anidrido carbônico que fixava este ao lhe fazer passar por uma caixa que continha água com uma solução alcalina que absrovia o gás. O oxigênio provinha de de outra decomposição química. A livre circulação do ar no interior do submarino era ativada por vários ventiladores.

Por também perceber que suas idéias exploratórias quanto ao uso dos submarinos não seria aceita pelo governo espanhol, Monturiol voltou-se para as aplicações militares. Pensou-se inicialmente em armar o submarino com o torpedo de bastão, porém, não atendendo as expectativas Monturiol idealizou armá-lo com um canhão que poderia disparar submerso, com 10 cm de calibre e com uma trajetória vertical. Monturiol e sua equipe imaginou, inclusive, recuperar Gibraltar com os Ictíneos.

Apesar de todo imaginário que este inventor e seus colaboradores criaram para o Ictíneo, não conseguiram sensibilizar o governo espanhol. De acordo com Agustín González, seja pelo ceticismo diante de inventos como este, pela ideologia política do próprio Monturiol e, de forma mais concreta, das possíveis pressões externas para que o governo espanhol arquivasse o projeto, o submarino Ictíneo não foi a frente.

Se por um lado, o general O’Donnell pensou em transformar o submarino em uma arma de guerra, por outro, este impulsou demonstrou-se desamparado politicamente. Isso pode ser explicado de duas maneiras que se complementam: (1) comparando a produção científica do século XVII com a do ano de 1900, podemos afirmar que, neste primeiro período, estima-se que o número de cientistas no mundo era inferior a 100 e, que, no segundo momento, havia cerca de dois mil cientistas no mundo.

Isto significa que, apesar do progresso dos avanços tecnológicos do século XIX, este ainda não se configurava como um momento de pleno desenvolvimento científico. Além disso, (2) os cientistas deste século vivenciavam o romantismo, o cientificismo e positivismo, o que conferia uma “inocência” aos desenvolvimentos científicos e tecnológicos deste período.

O século XX, os submarinos e a malícia perigosa humana 

O estadunidense John Holland, da Torpedo Boat Company, construiu um submarino que tornou-se o primeiro propulsionado por um motor dínamo-elétrico e um engenho a gás. Esta embarcação foi denominada de Holland.

O submarino tip Holland era caracterizado por um casco fusiforme e circular, câmaras de fundo duplo de lastro líquido, dois tanques de lastro nas extremidades da proa e popa, para equilibrar o submarino imerso, timões horizontais localizados na popa, complementados, às vezes, com mais dois pares localizado na proa, e com flutuação de 13 a 25 por cento. Alguns submarinos da classe Holland foram comprados pelos Estados Unidos, pela Inglaterra, pela Rússia e pelo Japão.

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O submarino francês Aigrette foi o primeiro submarino construído com um motor à diesel para propulsão de superfície e motor elétrico para operações submersas. A classe Aigrette foi lançada em 1904 e era composta por duas embarcações: o Aigrette e o Cigogne.

Estas embarcações possuíam 36 metros de comprimento, 4 metros de largura e eram compostas por, no máximo, 14 tripulantes. De acordo com Alam Miguel Loyo Ramos, o Aigrette “melhorou o conceito ao usar um motor a diesel para a navegação em superficie. Se construiu um grande número destes submarinos, com 74 concluídos antes de 1914” .

Seus torpedos continham dois tubos externos de 450 mm e há informações de que um deles, pelo menos, tenha sido comissionado no mar Adriático durante a 1ª Guerra Mundial. Com o fim desta Guerra, em 1919, ambos os submarinos foram desarmados. No início do século XX, com os aprimoramentos tecnológico dos submarinos, novas formas de utilizá-los foram, de fato, percebidas pelo homem. De acordo com Leopoldo Meis,

O elevado aumento tanto de pessoas dedicadas a ciência como de novas descobertas feitas no século XX permitiu um entendimento cada vez maior dos princípios que regem a Natureza. O homem soube utilizar as novas descobertas em seu proveito para mudar radicalmente sua forma de viver.

O primeiro submarino russo foi construído em 1904 e pertencia a classe Delfín. Este submarino possuía 19,5 metros de comprimento, 3,35 metros de altura, alcançava uma profundidade de 50 metros e era armado com dois lança torpedos e dois torpedos de 380 mm.

Francisco Porcel Granados afirma, que, a primeira vez que os submarinos militares tiveram um impacto significativo em batalha foi na Primeira Guerra Mundial. Embarcações como os U-Boats alemãs atuaram em combate na batalha do Atlântico e foram responsáveis pelo afundamento do RMS Lusitania, o que recebe boa parte do crédito da decisão dos Estados Unidos de entrar na guerra.

Essa tese pode ser comprovada pela própria força naval russa, a qual antes mesmo da 2ª Guerra Mundial dispunha de quatro frotas com 212 submarinos. Na 2ª Guerra Mundial, o mundo passou a presenciar um tempo de constantes avanços científicos e tecnológicos, sobretudo, na área militar. O sucesso dos U-Boats alemãs na Primeira Guerra Mundial foi tamanho que diversas armadas passaram a dotar suas esquadras de submarinos.

Contudo, embora, os submersíveis alemãs tivessem causados prejuízos consideráveis aos Aliados desde a 1ª Guerra Mundial, diante das cada vez mais modernas tecnologias anti-submarinas, essas embarcações alemãs não estavam mais cumprindo com eficiência as missões que lhes eram destinadas.

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Os submarinos de então se demonstraram, diante das inovações tecnológicas antisubmarinas, vulneráveis, à medida que possuíam pouco alcance em profundidade, limitada autonomia e pouca manobrabilidade. Em geral, a submersão destas embarcações ocorria quando manobravam, ficando a maior parte do tempo na superfície.

A Alemanha Nazista desenvolveu durante o curso da Guerra uma nova classe de submarinos, a qual teria um casco muito mais resistentes do que os das classes anteriores e alcançaria uma profundidade superior a 200 metros.

Conforme aponta Paul Fontenoy, uma das circunstâncias que mudaram radicalmente o paradigma de operações submarinas ocidentais imediatamente após a 2ª Guerra Mundial foi “o advento de verdadeiros submarinos – inspirados em barcos alemãs de tipo XXI, cuja tecnologia tornou-se acessível a todos os aliados”.Os cientistas e submarinistas da época acreditavam que estes submarinos constituíam uma verdadeira revolução tecnológica na condução da guerra no mar.

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Segundo o historiador José Miguel Romaña, os revolucionários submarinos do Tipo XXIA representavam, no que se refere ao deslocamento, 1.819 toneladas na superfície e 2.114 em imersão. Suas dimensões externas foram fixadas pelos projetistas em um cumprimento total de 76,7 metros, uma largura de 6,7 metros e de um calado de 6.3 metros.

Seu aparelho propulsor se compunha de dois motores diesel MAN MGV 40/46 (4 mil cavalos-vapor), dois motores elétricos principais SSW GU (5 mil cavalos-vapor) e dois motores elétricos silenciosos SSW GV (226 cavalos-vapor).

Alguns historiadores afirmam que, os alemãs não venceram esta Guerra pela demora da entrada em operação dos submarinos da classe XXI. Apesar de a Alemanha ter sido o país que mais foi punido com o fim da Guerra, muitos cientistas e muitas tecnologias foram compartilhadas com os Aliados.

“Estes ficaram tão maravilhados com os submarinos da classe XXI que não hesitaram em adquirir tanto os conhecimentos científicos e tecnológicos dessa inovação naval quanto as próprias unidades desses submarinos.”

Ciência, Tecnologia e Inovação de Submarinos no Pós-Guerra

Embora os submarinos tenham sido utilizados na maior parte das vezes para atender as demandas militares, como analisado no início deste texto, ele é fruto de uma demanda social. A idéia de utilizá-lo para exploração científica, tal como propôs inicialmente Monturiol, não foi à frente, pois, para além das restritas visões estratégicas militares, as limitadas atuações humanas no campo da pesquisa e da exploração oceanográfica impediam revoluções científicas e tecnológicas.

O próprio conceito de revolução científica no século XVIII e XIX é alvo de crítica por parte de historiadores. De acordo com Luiz Peduzzi, J. L. Bailly afirma, que, “revoluções de grande envergadura na ciência envolvem dois estágios bem característicos: primeiramente se produz uma revolta capaz de destruir o sistema científico aceito; em seguida se introduz algo novo para ocupar o seu lugar”.

Assim, ainda que os submarinos dos séculos XVIII e XIX tenham promovido inovações tecnológicas, não se configuraram como revoluções científicas e tecnológicas; pois, não modificaram nem as relações sociais nem o sistema político vigente. Já os submarinos construídos durante a 2ª Guerra Mundial, em especial, os da classe XXI, podem ser considerados tanto inovações tecnológicas quanto revoluções científicas; pois, há um relativo consenso entre os historiadores de que provocaram inúmeras perdas humanas e materiais à diversas nações e, estes últimos se tivessem entrado em operação antes de 1943, a Alemanha Nazista teria ganho a Guerra.

Há um outro consenso entre os historiadores ao afirmarem que os nazistas viam o prolongamento da Guerra num conflito de grandes proporções entre EUA e URSS. Muitos submarinos alemãs, com a rendição, em 1945, afundaram propositalmente ou se entregaram em solos estadunidenses ou aliados a eles, o que tornou possível o transporte migratório de cientistas nazistas e a transferência de conhecimento científico e tecnológico desenvolvidos pelos alemãs durante a Guerra, em especial, para os EUA. De acordo com José Miguel Romaña,

Os Aliados procederam à divisão dos exemplares que encontraram do Tipo XXIA, estudando detalhadamente seus mecanismos e inovações. Várias unidades seriam reabilitadas para servir como navios de teste sob bandeiras inimigas. Entre 1945 e 1946, no decurso da Operação Deadlight, um total de 119 submersíveis e submarinos da Kriegsmarine acabaram afundados em práticas de tiro ou mediante explosões controladas, em um ponto situado a 160 quilômetros ao nordeste da Irlanda.

Romaña completa, o U-3503 foi analisado pela Armada sueca. A Royal Navy incorporou em suas fileiras o U-3017, agora como N-41, prestando serviço ativo até 19449. Os Estados Unidos contaram com o U-2512 e o U-3008 até 1954. A Marinha soviética dispôs de quatro exemplares: U-3515, U-2529, U-3035 e U-3041, renomeados em suas listas de B-27 a B-30, mantendo-os em atividade até 1963.

A França não quis perder a oportunidade e contou com o U-2508 para convertê-lo no Roland Morillot, que se manteve navegando até 1958. É possível afirmar que o maior aprimoramento científico e tecnológico nos programas estratégicos de submarinos foi sua interface com a energia nuclear. Mais ameaçadores do que submarinos convencionais portadores de ogivas nucleares desenvolvidos pelos alemãs são os submarinos com propulsão nuclear portadores ou não de ogivas nucleares.

Segundo Gustavo Santos Masili e Rodrigo José Gomes Alay Esteves, em 2 de Dezembro de 1942, na Universidade de Chicago, um grupo dirigido por Enrico Fermi criou (com sucesso) o primeiro reator do mundo a chegar ao estado de auto-sustentação, ou “crítico”. O reator era abastecido com urânio natural embebido em blocos de grafite.

A fissão ocorreu no isótopo do urânio, U-235. O urânio natural contém apenas 0.7% de U-235, enquanto o restante dos 99.3% do urânio é U-238, que não se fissiona exceto com nêutrons altamente energizados, indisponíveis para o processo de fissão. Na produção de uma bomba, era necessário providenciar concentrações muito maiores de U-235, ou “urânio enriquecido”, e ultimamente, uma forma de difusão gasosa para ser usada na separação de U-235 e U-238.

Aos observar os feitos da equipe que desenvolveu a bomba nuclear e construiu reatores nucleares para geração de energia elétrica, a Marinha incumbiu o almirante Hyman Rickover (1900-1986) para dirigir um programa nuclear na Marinha estadunidense. Foi a necessidade de uma fonte de energia capaz de manter os submarinos estadunidenses em longas missões no mar que impulsionou as pesquisa iniciais na propulsão nuclear.

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De acordo com o engenheiro naval e nuclear Leonam dos Santos Guimarães, “o Nautilus não apenas transformou a guerra submarina, mas também lançou as bases para toda uma esquadra nuclear de porta-aviões e cruzadores, bem como da própria indústria de geração nucleoelétrica civil, pela usina nuclear de Shippingport, construídos pelo Almirante Rickover e suas equipes”.

Rickover é considerado pela História como o pai do projeto do submarino nuclear estadunidense. Guimarães afirma que, é justo dizer que as realizações da Naval Reactors podem ser consideradas quase um fenômeno, especialmente durante a primeira década da sua existência. Foi nesse período que mais de 30 navios de propulsão nuclear foram construídos, juntamente com a primeira usina nuclear construída exclusivamente para geração comercial de energia elétrica do mundo, localizada em Shippingport, Pannsylvania.

Em 1954, Rickover e sua equipe lançaram, nos EUA, o Nautilus, um submarino com propulsão nuclear, independente do ar atmosférica, com total autonomia e com profundidade superior a 400 metros. Este submarino era da classe Trident e seu reator era capaz de gerar vapor para propulsionar dois eixos motores.

Até então, os submarinos do Tipo XXI ainda que dificultassem o alcance dos dispositivos antisubmarinos podiam ser detectados. Com o de propulsão nuclear, a detecção se tornou inviável. Isso ameaçou o equilíbrio de poder estabelecido pelos constantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos militares na década de 1950. Embora os soviéticos tenham realizado a primazia na era espacial, nem seus satélites eram capazes de detectar os submarinos com propulsão nuclear estadunidenses.

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Como analisado, a importância de Rickover não ficou restrita apenas no meio militar. De acordo com o próprio Rickover: “A única coisa que fiz foi contratar pessoas mais espertas e inteligentes do que eu”.  A fim de gerar e compartilhar o conhecimento absorvido na área nuclear, este almirante deu início a um rigoroso programa de treinamento para todos os participantes da sua organização, a Naval Reactors.

Segundo Guimarães, “grande parte desse treinamento se fazia necessário porque naquela época poucos engenheiros da nova geração tinham conhecimentos sobre energia nuclear”. A importância deste almirante no projeto nuclear da Marinha foi impactante na História, principalmente, pela formação de uma comunidade científica nuclear, instalada, em instituições militares, em empresas e em universidades.

Submarinos e o Arraste Tecnológico

Rickover e sua equipe, ao promoveram o lançamento do Nautilus, e permití-lo chegar com sucesso ao pólo norte, demonstrou ao mundo duas coisas: (1) que todas as partes do oceano poderiam ser exploradas e, (2) que, este programa estratégico possuía um alto nível de arraste tecnológico.

De acordo com Guimarães, “a principal característica de um programa de arraste tecnológico é sua motivação, provocada por uma forte vontade política, capaz de criar uma verdadeira bandeira junto a qual uma significativa parcela da sociedade civil estaria pronta a cerrar fileiras”.

O programa estratégico de submarinos da Marinha dos EUA gerou ambientes favoráveis ao estímulo e ao fomento ao desenvolvimento de todas as suas potencialidades e propiciou a motivação necessária capaz de convencer os diversos setores dos benefícios estratégicos e sociais derivados deste Programa.

Assim, para além das questões bélicas, os submarinos construídos no Pós Guerra também despertaram o homem para novas possibilidades, à medida que, os seus aprimoramentos e suas inovações tecnológicas no campo da profundidade, da autonomia e da velocidade, permitiram-no construir outros tipos de submarinos para atender as demandas estratégicas e sociais. A Segunda Guerra Mundial também produziu outro conceito: tecnologia de uso dual.

Segundo Waldimir Pirró e Longo, “pode-se definir tecnologia de uso dual (ou duplo) como aquela tecnologia que pode ser utilizada para produzir ou melhorar bens ou serviços de uso civil ou militar”. A partir da Segunda Guerra Mundial, surgiram vários outros tipos de submarinos capazes de alcançar enormes profundidades e que atendiam as outras áreas da ciência.

O batiscafo é um exemplo disso. Este mini-submarino foi inventado em 1947, pelo suíço Auguste Antoine Piccard (1884-1962) para medir a profundeza dos oceanos. O batiscafo Trieste foi o primeiro deste tipo e realizou a sua primeira imersão em 26 em agosto de 1953, na Ilha de Capri, no mar Mediterrâneo.

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Embora tenha sido Auguste Piccard o invento do batiscafo foi seu filho, Jacques Piccard (1922-2008), junto com o Tenente da Marinha estadunidense Don Walsh, em 23 de janeiro de 1960, que desceram pela primeira vez ao fundo do oceano, no batiscafo Trieste, na Fossa das Marianas, nas costas das Filipinas, no oceano Pacífico.

Eles permaneceram submersos por 20 minutos no fundo do oceano, numa expedição que durou aproximadamente nove horas. A profundidade alcançada de 10.911 metros ainda hoje é um record mundial. De acordo com Ashcroft, “a viagem do Trieste provou que as pessoas podem descer ao solo do oceano e retornar incólumes, e seu sucesso produziu uma nova geração de submersíveis em que o incômodo tanque de flutuação foi substituído por uma quilha de pressão que assegura a flutuação primária”.

Atualmente, os países dispõem de pequenos batiscafos tripulados ou não capazes de, respectivamente, atingir profundidades superiores a 6.000 m e de atingir profundidades acima de 11.000 m.

Na área militar, os batiscafos não tripulados são denominados veículos submarinos não tripulados e a ausência de tripulação se deu em função das grandes perdas humanas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial. De acordo com o site Sistema de Armas,

Os conflitos atuais deixaram os governos sensíveis as perdas humanas, principalmente em conflitos assimétricos. Em conflitos assimétricos o inimigo é bem fraco, mas pode “ganhar” a guerra se causar muitas baixas no lado mais forte. O conceito de vitória passa a usar outros critérios ao invés de conquista e ocupação de território ou derrota de forças convencionais.

Na área naval as formas assimétricas podem ser pequenas embarcações, minas, baterias costeiras etc. Os veículos não tripulados se tornaram mais atrativos para este tipo de operação evitando riscos para plataformas tripuladas e sendo usados em tarefas difíceis. Os veículos não tripulados já estão em uso nas operações anti-minas navais com navios substituindo os caça-minas e os ROV substituindo as equipes de mergulhadores.

A sigla ROV significa, em português, Veículo Submarino Operado Remotamente, o qual permite que o fundo do mar e as estruturas submarinas sejam observadas remotamente. Conforme acrescentam Magalhães e Martinez, “também existem pequenos veículos submarinos utilizados em pesquisas, dotados de sistemas de foto-filmagem e braços mecânicos capazes de recolher amostras e efetuar pequenos consertos em estruturas subaquáticas.”

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Estudos de caso: submarinos e suas aplicações civis atuais 

Os ROVs ou, simplemente, mini-submarinos são equipamentos autônomos submersíveis que podem ser configurados e programados. São usados em missões operacionais que vão desde detecção de minas, operações anfíbias e de defesa costeira até naufrágios, busca, salvamento, manchas de poluição e mapeamento de áreas de trabalho.

Naufrágio do petroleiro grego Prestige

Em 13 de novembro de 2002, o navio petroleiro grego Prestige provocou um grave prejuízo ao meio ambiente e às atividades pesqueiras na região, após passar por uma tempestade no mar da Galícia, na Península Ibérica, e um de seu tanques se abrir, liberando para o mar aproximadamente 5.000 litros de petróleo.

O naufrágio não teve vítimas. Este navio foi construído em 1976 e seu deslocamento era de 42 mil toneladas. Ao todo, o Prestige transportava 77 mil toneladas de óleo pesado. No dia 19 deste mês, para agravar ainda mais a situação, o petroleiro se partiu em dois à 250 quilômetros de distância da costa da Galícia.

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A fim de avaliar a situação, após solicitação espanhola, no dia 2 de dezembro deste ano, a França enviou o mini-submarino Nautile para a área do naufrágio. De acordo com K. G. Souza e L. R. Martins,

O submersível Nautile pertence ao IFREMER (Instituto Francês de Pesquisa para Explotação do Mar), e realiza exploração em zonas específicas, efetuando medidas físicas e batimétricas de alta precisão, coleta de amostras e manipulação de ferramentas especiais, assistência a trabalhos offshore, inspeção de cabos e dutos, além de localização, investigação e assistência em locais de degradação ambiental. A capacidade de operação do Nautile é de 6.000 metros.

O Instituto Francês de Pesquisa para Explotação do Mar cedeu o Nautile para uma missão de oito dias, na qual se pretendeu averiguar o estado em que se encontrava o Prestige no fundo do mar da Galícia.

O Nautile captou imagens da fuga de óleo dos tanques do navio. Em 9 de dezembro, o Nautile encontrou novas fendas. Segundo a médica de catástrofes portuguesa Sandra Cristina da Rocha e Silva, “numa entrevista à televisão espanhola, o presidente do governo assume alguns equívocos quanto à gestão da maré negra do Prestige e define-a como a pior Catástrofe ecológica de Espanha”.

O batiscafo francês foi fundamental desde o início da catástrofe. Ele identificou que o Prestige se encontrava a 3.500 metros de profundidade, identificou e mapeou as áreas que sofreram derrame de óleo, recolheu dados para os cientistas, oriundos desde universidades até organizações ambientais, identificou as fendas do navio e as soldou.

Segundo fontes do Portal Marírimo, “durante uma campanha da empresa Repsol, foram utilizados ROV´s especiais para a remoção do óleo pesado, retirando assim 95% do petróleo restante a uma profundidade de 4000 metros”.Somente a partir de 2004 que as manchas negras no mar, provocada pela catástrofe, começou a se dissipar.

Despoluição do Lago Léman e Expansionismo russo no Pólo Ártico

O Lago Léman, vulgarmente conhecido como Lago de Genebra é o segundo maior da Europa Ocidental. Ele constituti fronteira entre a França e a Suíça.

Na sua superfície são realizados numerosos esportes e atividades náuticas. E ao seu redor concentram-se numerosos pontos históricos, como castelos e vilas fortificadas, ainda do período medieval, como o Hermance, a vila Yvoire, o Castelo de Chillon, a vila Morges, o pequeno burgo medieval Saint-Prex, o castelo de Rolle, o castelo Nyon (século XIII), o castelo de Coppet e o porto Versoix, construído no século XVIII.

Todas estas referências transformam o Lago Léman num produtivo ponto turístico. Além disso, “quase 1,5 milhão de pessoas vivem na bacia lemânica, onde o lago abastece em água potável metade dessa população”. Em função deste lago apresentar presença de elementos tóxicos, a empresa sueca Ferring Pharmaceuticals, com sede em Saint-Prex aceitou financiar um projeto, com apoio do Consulado da Rússia, em Lausanne, que buscou reunir dados e distribuir captores no Lago.

Sob coordenação da Escola Politécnica Federal de Lausanne, o projeto visou reunir pesquisadores de várias partes do mundo a fim de ampliar conhecimentos e solucionar os problemas de contaminação no Lago de Léman.

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Além disso, a fim de obter amostras do solo para determinar o nível de poluição, a Rússia enviou dois mini-submarinos, o Mir-1 e o Mir-2, os quais atuaram no Lago por três meses. A profundidade máxima do Lago é de aproximadamente 310 m. Ambos os submarinos Mir possuem 8 m de comprimento, têm capacidade para três pessoas e podem alcançar uma profundidade de 6 mil metros.

Na transcrição traduzida do vídeo produzido pelo jornal russo Ria Novosti, os especialistas destacam o caráter único da expedição, pois o maior lago da Europa Ocidental ainda não havia sido submetido a uma pesquisa tão exaustiva. A bordo de um dos submarinos dirigido pelo cientista russo Anatoly Sagalevitch se encontrava também o estadunidense Don Walsh, conhecido por sua exploração das Fossas das Marianas e seu colega suíço Bertrand Piccard.

Anatoly Sagalevitch é oceanógrafo e explorador russo. Ele trabalha para o Instituto Shirshov de Oceanologia, da Academia Russa de Ciência, desde 1965. E desde 1979, Sagalevitch é o diretor do Laboratório de Submersíveis para Águas Profundas da Rússia. É um cientista reconhecido internacionalmente pelas suas explorações submarinas, a qual uma das que mais se destacou foi a sua imersão, em 2007, “no fundo do Oceano Glacial Ártico, próximo ao pólo norte, a 4.261 m de profundidade, onde instalaram uma bandeira da Rússia” .

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Com esta imersão, os russos buscaram comprovar que “a cordilheira submarina Lomonosov, que se eleva 3,7 mil m do fundo do oceano e vai além do pólo norte, é uma continuação da plataforma continental da Sibéria”. Além disso, “o trabalho pode ajudar na reivindicação russa sobre os direitos a uma área submarina de 1,2 milhão de quilômetros quadrados rica em petróleo, gás e minerais (entre eles diamantes)”.

Esta exploração foi denominada Expedição Científica Ártico-2007. Os dois batiscafos russos Mir-1 e Mir-2 foram transportados para a região pelo navio-laboratório Acadêmico Fiodorov e acompanhados pelo navio quebra-gelos nuclear Rossia. Todos os dois mini-submarinos continham três tripulantes cada e o Mir-1 estava sob o comando do oceanógrafo Anatoly Sagalevitch.

Após a conclusão dos trabalhos de laboratório na identificação das estruturas geológicas, o governo russo empenhou-se em adotar uma estratégia de transformar a Rússia até 2020 na principal potência do Ártico. Há interesses de outros países em impedir que este planejamento se efetive.

Segundo o jornal russo Pravda, EUA, Canadá, Dinamarca e Noruega também desdobraram-se em iniciativas mais ou menos mediáticas com um único objectivo: deixar claro que a Rússia não é a única potência com interesses territoriais na região do Árctico, onde é suposto existirem um quarto das reservas mundiais de petróleo e gás, além de urânio, diamantes e outros minérios.

De acordo com Sergei Balyasnikov, porta-voz do Instituto Ártico e Antártico da Rússia, “esta é uma missão arriscada e heróica (…). É um feito importante para que a Rússia demonstre seu potencial no ártico” [39]. Os mini-submarinos, ao retornarem à superfície, demonstraram capacidade e competência científica e tecnológica, reforçando a sua projeção política sobre a região.

A queda do vôo 447

Em 31 de maio de 2009, o airbus, da empresa Air France, caiu na parte brasileira do oceano Atlântico resultando na morte de 228 pessoas. O vôo de número 447 decolou do Rio de Janeiro, no Brasil, com destino a Paris, na França.

Poucas horas após decolagem uma série de mensagens automáticas emitidas pelo Sistema Dirigido de Comunicação e Informação Aeronáutica (ACARS) foi enviada pelo avião, sinalizando problemas elétricos e perda da pressurização de cabine na aeronave. Após busca, os destroços e corpos de vítimas do vôo, no dia 2 de junho deste ano, começaram a surgir no oceano, levando o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, confirmar a queda do vôo 447.

Em 10 de junho, o submarino nuclear de ataque francês Emeraude iniciou seus trabalhos pela busca das caixas pretas. Este submarino dispunha de 72 tripulantes. O submarino fez a operação se utilizando de seus sonares a fim de captar o sinal pinger, emitido pelas caixas pretas.

De acordo com a nota da Força Aérea Brasileira, em 26 dias de operação continuada sob responsabilidade do Brasil, em atendimento a compromissos internacionais de busca e salvamento, a Força Aérea Brasileira utilizou 12 aeronaves e contou com o apoio de aviões da França, dos EUA e da Espanha. A Marinha do Brasil atuou com 11 navios em revezamento na área de buscas, totalizando cerca de 35 mil milhas navegadas, aproximadamente oito vezes a extensão da costa brasileira.

Foram voadas cerca de 1500 horas, tendo sido realizadas buscas visuais numa área correspondente a 350 mil quilômetros quadrados, mais de três vezes a dimensão do estado de Pernambuco. O avião R-99, por sua vez, realizou busca eletrônica numa área correspondente a dois milhões de quilômetros quadrados, oito vezes a dimensão do estado de São Paulo.

Foram diretamente envolvidos na Operação 1.344 militares da Marinha do Brasil e 268 da FAB, perfazendo mais de 1.600 profissionais nas tarefas de busca, resgate e suporte a essas atividades.

Assim, por ausência de testemunhas e de rastreamento de radares, por não encontrar mais corpos e destroços do vôo e pela falta das caixas pretas, no dia 26 de junho, os Comandos da Força Aérea e da Marinha do Brasil decidiram, em comum acordo, com o governo francês encerrar a operação.

De acordo com o Escritório de Investigações e Análises (BEA) para a Segurança da Aviação Civil da França, estes primeiros períodos de busca custaram à França aproximadamente 8,5 milhões de euros. Embora, este anúncio fosse feito pelas autoridades brasileiras e francesas, o estudo oceanográfico da região do acidente teve continuidade por especialistas de dez institutos internacionais.

Além de especialistas internacionais, inclusive, um deles especialista em buscas submarinas de fuselagens de aviões, a nova operação contou também com a presença de técnicos da Airbus e da Air France. Conforme reportagem da BBC Brasil, “eles [os especialistas internacionais] analisaram o movimento das correntes, dos ventos e uma série de fatores técnicos para reconstituir a trajetória dos destroços do avião e delimitar a área de buscas da fuselagem”.

Com os novos resultados das pesquisas realizadas por estes especialistas, a operação voltou a ser retomada em fevereiro de 2010. Isso resultou na diminuição da área de busca da fuselagem do avião. Além disso, segundo Jean-Paul Troadec, diretor do BEA, “estamos utilizando os equipamentos mais sofisticados do mundo.

Essa é uma das operações de busca mais complexas já realizadas até hoje. Não podemos fazer melhor do que isso”. De acordo com dados do BEA, esta terceira fase de buscas custou cerca 10 milhões de euros, contudo, foi financiada pela Air France e pela Airbus.

O BEA afirmou, que, o primeiro mergulho do veículo autônomo submersível Remora 6000 durou cerca de 12 horas. Ele é pilotado por dois operadores da americana Phoenix International. Um deles é responsável pela movimentação do Remora 6000 enquanto o outro, se ocupa dos braços articulados.

Os dois técnicos – são três equipes que se alternam durante 24 horas – operam através de joysticks, manetes do tipo para vídeo games, e são orientados pelas imagens captadas pela câmera de vídeo de alta definição do veículo autônomo submersível. Um cabo de fibra ótica de 7 mil metros que fornece energia e transmite os comandos liga o navio ‘Ile de Sein’ ao robô submarino.

O Remora, que significa Unidades de Monitoramento Ambiental Remoto, em português, foi, especialmente, projetado para atuar em águas profundas de até 6 quilômetros de profundidade. Este mini-submarino foi construído pela empresa estadunidense Phoenix International, a qual presta serviços marítimos tripulados e não tripulados.

O Remora foi uma tecnologia lançada, pela primeira vez, na Guerra do Golfo, em 2003, durante Operação Iraque Livre. Ele foi utilizado para localizar minas no porto de Umm Qasr, no sul do Iraque.

O principal cliente da Phoenix International é a própria Marinha estadunidense, a qual utiliza estes mini-submarinos, principalmente, em operações de busca e recuperação de submarinos. A missão destes mini-submarinos consistia em encontrar as caixas pretas, os gravadores de vôo, recuperar partes da fuselagem e resgatar corpos, alguns ainda presos, inclusive, por cintos, na fuselagem do avião.

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Conforme comunicado do Instituto Oceanográfico Woods Hole, a equipe deixou o porto de Suape no Brasil a bordo do navio Alucia no dia 22 de março e chegou na área de buscas no dia 25. Três robôs do tipo Remus 6000 foram lançados do navio e depois de uma semana de buscas, um deles detectou destroços no fundo do oceano. Um segundo robô foi enviado para o local para fazer um mapeamento mais detalhado com o sonar e tirar fotos.

Em 4 de abril de 2011, equipes de busca e resgate francesas anunciaram a descoberta de mais destroços e de corpos presos na fuselagem do vôo 447 no oceano Atlântico. Os destroços do avião foram localizados à uma profundidade de 3.900 metros.

Conclusão

Diferente do que a maior parte da humanidade pensa, os submarinos nasceram como fruto do desenvolvimento científico e tecnológico. Porém, como a ciência, nos séculos XVII, XVIII e XIX, ainda se encontrava em fase de ambientação, nenhuma invenção que não transformasse, de fato, a forma como o homem interagisse com o meio, iria ter respaldo político.

Gradativamente, os submarinos foram ganhando aprimoramentos tecnológicos. Contudo, nem na Primeira Guerra Mundial, apesar de perdas humanas e materiais provocadas, os submarinos convenceram os políticos a transformarem-nos em grandes estratégias políticas.

Foi no curso da própria Segunda Guerra Mundial, com a maior autonomia, maior profundidade e maior velocidade que os submarinos deixaram de apoiar logisticamente para, de fato, atuar estrategicamente nos vários palcos de guerra do cenário político mundial. Contudo, os submarinos alemãs da classe XXI entraram operacionalmente na Guerra quando a Alemanha Nazista já se encontrava em fase de declínio.

Apesar das numerosas punições sofridas pela Alemanha Nazista ao findar da Guerra, muitos cientistas alemãs e seus submarinos, em especial, os da classe XXI, foram transferidos para os Aliados. O arraste e a dualidade tecnológica, produzidos, em especial, pelos submarinos, a partir da década de 1940, foram tamanhos que possibilitaram a consolidação da ciência como estratégia política.

Além disso, a interface dos submarinos com a energia nuclear a partir da década de 1950 contribuiu ainda mais para transformar a vida da humanidade, a medida que estas belonaves, de diferentes projetos e tipos, podiam ser utilizados, simultaneamente, em guerras e em explorações científicas, em mapeamento geológico subaquático e em busca e salvamento em água profundas, em descobertas de tesouros e em despoluição ambiental.

A Força de Submarinos da Marinha do Brasil, por exemplo, foi criada em 1914. Hoje, este país dispõe de apenas 5 submarinos convencionais. Com o recente acordo assinado com a França, em 2009, o Brasil irá adquirir mais 4 submarinos convencionais e um com propulsão nuclear.

Esta parceria estratégica irá conferir ao Brasil, na próxima década, competência em projeto, em construção e em operação de submarinos. Até 2050, o Ministério da Defesa tem defendido um planejamento naval de possuir 26 submarinos. Para além das questões belicosas, a possibilidade desta competência tecnológica já está mobilizando arraste e dualidade tecnológica, a medida que outros setores científicos da sociedade brasileira já estão se beneficiando do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), em especial, os de energia.

Já se discute na sociedade brasileira, por exemplo, a construção de novas usinas nucleares com os conhecimentos científicos e tecnológicos adquiridos no desenvolvimento do reator do futuro submarino nuclear brasileiro e a construção de submarinos de passageiros para atender as demandas logísticas offshore.

Isso nos permite concluir que os programas estratégicos de submarinos ao longo da História deram importantes contribuições para o desenvolvimento científico, tecnológico, social, econômico e políticos aos seus países de origem.

Notas 

[1] Doutoranda na área de Estudos Estratégicos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense e Pesquisadora do Grupo sobre Base Logística de Defesa do Núcleo de Estudos Estratégicos desta mesma universidade.

Fernanda

FONTE : reebsd.blogspot.com.br

Fonte | Fotos: operacional