News

Escoteiro do Rio de Janeiro é condecorado com a Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes

Escoteiros de Irajá participam de troca de guarda do Monumento aos Pracinhas

AECB Brasília realiza homenagem a veteranos da FEB

Militares do Comando Militar do Norte fortalecem o preparo em Operações Aeromóveis

Tropa do Exército Brasileiro se prepara para atividade internacional

Operações Interagências: saiba como é atuação da Marinha com outros órgãos

Condor apresenta tecnologias inteligentes durante a LAAD 2023 e anuncia o primeiro Instituto de Ciência e Tecnologia para não letais da América Latina

Friday, 29 de March de 2024
Home » História » Em um avião de guerra servidor diz ter feito chover em São Paulo

Em um avião de guerra servidor diz ter feito chover em São Paulo

Diversos
Por

Jorge Luiz Grapeggia Funcionario público mais antigo de SP

Em 1964, o jovem Jorge Luiz Grappeggia entrou em um avião com a missão de fazer chover em São Paulo. O encarregado de serviços técnicos do Departamento de Águas e Energia Elétrica hoje o servidor mais antigo do Estado, subiu 5 km de altura em uma aeronave de guerra e despejou gelo seco em uma nuvem. Naquele dia um temporal alagou a região do ABC, a eficácia do método hoje é questionada pela Sabesp.

Depoimento…

Arrisquei a vida para fazer chover em São Paulo. Eu tinha 28 anos e trabalhava no Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) do governo do Estado (onde trabalha até hoje, sendo o servidor mais antigo de SP). Fazia a medição dos rios na região do Médio Tietê, certo dia estava num barco com dois colegas quando a embarcação virou. Um deles não sabia nadar e eu consegui salvá-lo. Acho que isso fez com que eu ficasse com fama de valente lá no departamento…

Fato é que, em seguida, fui incumbido de participar de uma experiência de indução de chuvas: subir num avião e despejar gelo seco na nuvem mais alta e mais densa que houvesse para tentar provocar chuvas que atingissem a represa Billings. Nunca gostei de viajar de avião. Sempre tomo remédios por causa de enjoos. Mas São Paulo vivia uma estiagem muito grave. A represa estava quase seca, e o fornecimento de energia elétrica já sofria racionamento.

A experiência com gelo seco foi feita a pedido do então governador, Adhemar de Barros. Ele queria que algum funcionário do Daee executasse o método do professor Janot Pacheco, engenheiro mineiro que desenvolvera uma forma de semeadura de nuvens. Bastaria despejar, a partir de um avião, gelo seco (dióxido de carbono solidificado) dentro de uma nuvem, provocando chuvas. Janot criou o método, mas quem quase morreu fui eu!

15065902

A Kibon doou o gelo seco e a FAB (Força Aérea Brasileira) disponibilizou um B-25. O avião, usado na Segunda Guerra Mundial, já era quase uma sucata voadora. No dia 12 de fevereiro de 1964 o piloto da FAB disse que tinha encontrado as condições perfeitas para fazermos chover na represa Billings. Era uma nuvem do tipo “cumulus nimbus”, muito densa, considerada o terror da aviação [dentro dela, ventos correm de baixo para cima a uma velocidade de até 100 km/h]. Ela estava entre Cumbica e a Lapa, a 5.000 metros de altura, e ventos eram favoráveis.

Perguntei ao piloto se havia paraquedas para o caso de emergência. Ele riu: disse que o avião era tão pesado que se esborracharia contra o solo em poucos segundos caso os motores falhassem. Mesmo sabendo dos riscos, colocamos um tonel com 200 quilos de gelo seco dentro do avião e subimos. A pessoa que se mete nisso tem que correr algum risco, ora bolas! É como quem pratica esporte radical: sabe do perigo e vai em frente.

Decolamos e, não demorou muito, já estávamos entrando na nuvem. De repente, fez-se uma bruta escuridão. Não se enxergava nada. Era raio para tudo o que é lado: clarões pertinho do avião. Senti um dos motores parar. Foi uma turbulência danada. Mas não houve tempo para desespero, só para pensar: desta vez, não escapo.

Nessa confusão, jogamos todo o gelo seco dentro da nuvem de uma vez. Queríamos fugir daquele inferno. De imediato, deu uma chuva violenta. Fiquei surpreso: o processo foi instantâneo. Quando o piloto percebeu o temporal, tratou de cair fora. Saímos daquela escuridão, e achei que já estava tudo bem. Mas aí deu o perereco.

Na hora de pousar em Cumbica, as chuvas eram tão densas que não se enxergava nada. E o avião perdeu o freio. O piloto jogou o trem de pouso contra marcos de iluminação: os pneus estouraram, e o avião deitou o nariz no asfalto, soltando fogo para todo lado, até parar, a 20 metros do final da pista. O camarada deveria ser o melhor piloto da FAB.

Choveu tanto que deu enchente em São Paulo. Transbordou o rio Tamanduateí. Alagou a região do ABC. No dia seguinte, as chuvas estavam em todos os jornais. Arrisquei minha vida para beneficiar milhões de pessoas, e aquele voo ficou marcado na minha alma. Esperava pelo menos um muito obrigado. O próprio governador deveria ter nos agradecido. Mas não o fez. Achei muita falta de educação

Fonte | Fotos: operacional