News

Em celebração do dia do Soldado em Brasília, empresários gaúchos são agraciados com a Medalha Exército Brasileiro

Forças Armadas e sociedade civil transportam 3,6 mil toneladas de donativos ao Rio Grande do Sul na maior campanha humanitária já registrada no país

Embraer e FAB colaboram com logística e doações para o Rio Grande do Sul

P-3AM Orion faz primeiro voo com novas asas

ABIMDE coordenou empresas brasileiras na Defence Service Asia 2024

KC-390 Millennium transporta Hospital de Campanha da FAB para Canoas

Hospital de Campanha da Marinha inicia atendimentos no RS nesta quinta-feira (9)

Friday, 06 de December de 2024
Home » Artigos » Em “combate” com a Marinha da República Popular da China

Em “combate” com a Marinha da República Popular da China

Marinha

Em outubro último, o Brasil recebeu um visitante inédito em nosso país: a Marinha do Exército de Libertação Popular (M/ELP ou PLAN na sigla em inglês) da República Popular da China.

“Marinheiros de primeira viagem” em nossas águas, a força chinesa consistia de três embarcações, um contra-torpedeiro, uma fragata e um navio de apoio logístico que demandaram porto do Rio de Janeiro como parte de um esforço de estreitamento de laços entre as nações amigas.

A China, sustentada por forte e constante crescimento, mesmo re-mando contra a maré da economia mundial, tem expandido sua presença global e já deu indicações de que pre-tende se inserir no mercado de defesa latino-americano. Seus programas de inovação tecnológica em defesa, em parte alimentados por engenharia re-versa, mas também por um forte es-forço de desenvolvimento próprio de novas tecnologias, são notáveis. A marinha chinesa passou a maior par-te do século XX como uma marinha de águas marrons, concentrada na defesa de seu litoral e ações ribeiri-nhas. No entanto, com o crescimento econômico e político, está se transformando a passos largos numa marinha de águas azuis, capaz de projetar po-der muito além da sua costa e é apenas natural que, cedo ou tarde, fosse mostrar sua presença no Atlântico Sul, mesmo que simbolicamente.

Como parte dessa ação de diplo-macia militar, a Marinha do Brasil e a M/ELP realizaram exercícios combina-dos ao largo da costa do Rio, no dia 26 de outubro. A força chinesa que participou do exercício era composta pelo contratorpedeiro Lanzhou (DDG-170) da classe Type 052C (codinome OTAN: Luyang-II class) e pela fraga-ta Liuzhou (FFG-573) da classe Type 054A (codinome OTAN: Jiangkai-II class).

O Lanzhou é um contratorpedeiro de projeto moderno, baseado no design do Type 052B, e é especializado em combate antiaéreo com um deslocamento de 6600 toneladas. Para isso conta com quatro antenas fixas de radar de arranjo em fase (phased array no inglês) e com oito plataformas de lançamento vertical (cada uma com seis células) para mísseis de defesa aérea HQ-9. O navio possui também dois lançadores de mísseis de cruzei-ro antinavio YJ-62 (C-602), cada lan-çador está equipado com quatro célu-las. O YJ-62 tem um alcance nominal de 280 km. O armamento principal do Lanzhou é um canhão de 100 mm multipropósito, capaz de engajar alvos de superfície ou aéreos, inclusive mísseis de baixa velocidade, com uma cadência de tiro de noventa disparos por minuto. Além disso, conta com quatro sistemas de defesa de curta distância Type 730 (CIWS, ou close-in weapon system), com uma cadência de tiro de até 5.800 disparos por minuto e um alcance máximo de 3 km.

Lançado ao mar em 2003, o Lanzhou possui tecnologia de ponta, des-de a integração digital dos sistemas de combate do navio à capacidade de datalink que confere ao navio a capaci-dade de atuar contra alvos aéreos, de superfície e submarinos. Para detecção dos alvos é equipado com um ra-dar de busca aérea de longo alcance 2D Type 517H-1, um radar de controle de tiro Band Stand para combate de superfície e dois radares de controle de tiro Type 327G para os CIWS. Instalado no casco, há um sonar de busca e ataque passivo/ativo SJD-8/9. O sistema de propulsão é formado por dois motores diesel e duas turbinas a gás que conferem uma velocidade máxima de 30 nós.

O Liuzhou, também de design recente, possui inovações estruturais que lhe conferem modesta capacidade furtiva (stealth). Trata-se de uma fragata multipropósito, mas especia-lizada em defesa aérea e com capa-cidade de combate de superfície e antissubmarino com um deslocamento de 4500 toneladas. Para isso está equipado com 32 lançadores verticais de mísseis antiaéreos na proa (que se supõe também serem capazes de lançar mísseis antissubmarinos), dois lançadores quádruplos de mísseis anti-navios à meia nau, dois lançadores de seis tubos de mísseis antissubmarinos Type 87 instalados na popa e um canhão de 76 mm instalado na proa. Na popa, um deque de pouso e um hangar fechado permitem a operação de um helicóptero de médio porte como o Harbin Z-9C. Além disso, a fragata possui, assim como o Lanzhou, duas baterias CIWS Type 730. Já os mísseis anti-navios do Liuzhou são provavelmente os YJ-83, com alcance acima dos 180 km.

Os sistemas de detecção das Type 054A são um desenvolvimento chinês a partir de modelos russos adquiridos juntos com os contratorpedeiros classe Sovremenny (Proekta 956). São eles: um Top Plate (radar de busca aérea 3D Fregat-MAE-5), quatro Front Dome (radar de orientação de mísseis antiaéreos MR90) e um Band Stand (radar de controle de mísseis antinavios, aquisição além do horizonte e designação de alvos de superfície Mi-neral-ME), complementados por três radares de tiro Type 347G e um radar de busca de superfície MR36. O sonar é provavelmente um MGK-335 de origem russa. Tudo isso impulsionado por quatro motores a diesel que pro-duzem uma força total de 18,880 kW (25,320 cavalos).

Já a Marinha do Brasil empregou  a fragata Constituição (F42) e o Navio Patrulha Oceânico Apa P-121 (onde a equipe da Operacional embarcou), este último cumprindo o papel de “unidade de maior valor” (HVU) da formação.

Estavam previstos exercícios de defesa aérea com o emprego de aeronaves MH-16 Seahawk e AF-1 Skyhawk da MB provenientes da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, mas o tempo ruim, com muita chuva, vento e teto baixo, forçaram o cancelamento do elemento aéreo do exercício.

De modo a proteger o Apa de possíveis ameaças inimigas, durante o exercício foram realizadas manobras táticas em formação. Participaram do exercício um helicóptero UH-12 Es-quilo da MB e um Z-9C orgânico da Liuzhou. O Esquilo realizou operações “cross-deck”, pousando no contratorpedeiro Lanzhou, já o Z-9C somente participou em patrulha ao redor da formação. Para finalizar, realizaram–se fainas de “light-line” para a troca de carga entre os navios brasileiros e os navios chineses. Nessa manobra, os navios em pares navegam paralelos e bastante próximos, de maneira a transferir cargas leves via cabo entre si. Na ocasião, os navios trocaram presentes, o Apa com o Liuzhou e a Constituição com o Lanzhou.

Comandaram o exercício o Contra-Almirante Paulo Cesar Mendes Biasoli, Comandante da 2ª Divisão da Esquadra, e o Contra-Almirante Li Xia-oyan, Vice-Chefe do Estado-Maior da Frota do Mar Sul da M/ELP (a bordo da fragata Liuzhou). A frota chinesa seguiu viagem, após o fim do exercício, rumo à Argentina e ao Chile, para-das finais antes de retornar aos portos chineses.

Fonte | Fotos: Operacional | João Pedro Sá Teles