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Sunday, 08 de December de 2024
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Emprego da Guerra Eletrônica no combate ao crime organizado

Exército

A área de operações ocupada pela Força de Pacificação possuía um perímetro de 16 Km, um terreno extremamente acidentado cortado no sentido Leste-Oeste pela Serra da Misericórdia, onde eram realizados justiçamentos dos não colaboradores da facção Criminosa Comando Vermelho. Ao Sul da Serra temos o Complexo do Alemão e a o Norte, o Complexo da Penha. Estima-se que chegue a 400 mil habitantes o somatório dos dois complexos de labirintos.

Tendo sido empregado em estado de normalidade constitucional, com plena vigência dos direitos e garantias individuais, não foi autorizado o emprego da escuta de telefone de qualquer espécie. Essa limitação restringiu o emprego da Guerra Eletrônica apenas ao monitoramento e escuta de rádios tipo “Talk About” de sinal aberto e não criptografado.

Apesar disso, por ser um sistema de comunicações barato de manter e com logística bastante simples, foi de grande valia o acompanhamento dessa rede de comunicações. A condução das atividades de comunicações clandestinas pelo Comando Vermelho nos Complexos do Alemão e da Penha valem-se de técnicas táticas e procedimentos típicos da Guerra Irregular, caracterizando um conflito de guerra assimétrica no coração do Rio de Janeiro.

A finalidade da Guerra Eletrônica é empregar militarmente a eletrônica valendo-se de ações que reduzam ou eliminem a eficiência ou o uso do espectro eletromagnético pelas Forças Adversas e as ações destinadas a garantir a eficiência do uso daquele espectro pelas Forças Amigas.

Já nas últimas décadas do século passado as operações de guerra eletrônica passaram a fazer parte das operações militares.

Além do acompanhamento especializado da transmissão dos sinais, quando era conveniente à Força de Pacificação do Exército, eram realizadas interferências na rede-rádio do Comando Vermelho visando reduzir a capacidade de comando e controle dos líderes pelo enfraquecimento ou até pelo total silêncio dos seus meios de comunicações rádio em momentos críticos. Por parte da tropa, não foi explorado o envio de mensagens falsas; entretanto fortes indícios permitem a conclusão de que em algumas ocasiões o crime organizado identificou que poderia estar sendo monitorado e realizou a transmissão de mensagens falsas. Em uma delas, por exemplo, fingia-se estar providenciando a retirada de um fuzil subtraído da Força de Pacificação. Graças ao controle absoluto do armamento, rapidamente verificou-se que a mensagem era falsa.

As atividades da guerra eletrônica foram conduzidas por militares especializados e em estreita ligação com a inteligência inicialmente. Após algum tempo, passou-se a manter na mesma instaleção um militar da tropa, visando direcionar, em tempo real, os militares que estavam no terreno, otimizando as ações. Esse procedimento gerou excelentes resultados, pois valia-se do princípio da oportunidade, mesmo negligenciando uma avaliação de um analista de inteligência, pois a integração passava a ser integrada com a inteligência humana.

Nos primeiros sete meses não houve emprego de guerra eletrônica porque não haveria como garantir a segurança do equipamento disponível. Naquela oportunidade, o sítio de antenas ocupariam uma extensão de 90 metros no alto da Serra da Misericórdia. Somente após a aquisição de equipamentos mais compactos foi possível instalá-los em sigilo no interior da área de operações em instalações ocupadas permanentemente pelas tropas, sendo o acesso extremamente restrito.

Os três equipamentos foram instalados de maneira a possibilitar uma triangulação e apontar com precisão os locais de transmissão. A equipe de subtenentes e sargentos coletava as informações e os oficiais analistas analisavam as gravações para apresentar conclusões que integrariam a inteligência do sinal.

É interessante reforçar que a inteligência do sinal somente foi potencializada quando passou a ser utilizada de forma integrada com as outras fontes de inteligência para reforçar uma ideia já levantada, por exemplo, pela inteligência humana, ou para abrir um caminho para a inteligência humana buscar maiores dados.

O emprego da inteligência do sinal resultou em diversos resultados:

-Identificação do emprego de mensagens clandestinas tipo BTB (Blind Transmission Broadcasting), normalmente as atividades da rede rádio eram encerradas imediatamente após a transmissão de uma gravação da invasão do Complexo da Penha, normalmente por volta de 00:00h.

-Identificação das frequências usadas pelos olheiros e fogueteiros;

-levantamento dos indicativos utilizados e respectiva localização;

-levantamento das gírias e mensagens pré-estabelecidas usadas visando mascarar a atividades que não podiam ser transmitidas em claro;

-identificação da existência de um controlador e disciplinador da rede de transmissões;

-identificação dos horários e locais de funcionamento dos principais pontos de venda de drogas (início da noite e início da madrugada);

-levantamento da existência de uma escala de serviço para observar a movimentação da tropa e para o comércio de drogas;

-identificação da existência de um serviço de preparo e entrega de refeições para os olheiros (conduzido por moradores colaboradores);

-Levantamento da existência de um sistema de segurança das comunicações;

-identificação de que apenas o escalão mais baixo da hierarquia do tráfico fazia uso do sistema “Talk-About”.

A integração das atividades de Guerra Eletrônica, o disque denúncia e as patrulhas a pé (inteligência humana) foram as grandes fontes de informação que colaboraram para o mapeamento dos locais com maior incidência de ilícitos e para a divisão da área de operações em verde, amarela e vermelha.

Visando incrementar a eficiência da tropa no terreno, foram adquiridos para os comandantes de patrulhas equipamentos “Talk-About” com fone de ouvido. Esse rádio de simples aquisição e reposição permitiu à tropa realizar várias prisões em flagrante por valer-se da oportunidade.

O emprego inédito e pioneiro dessa prática ampliou a capacidade de atuação das tropas de infantaria no terreno, otimizou as análises de inteligência e merece ser estudada visando identificação das oportunidades de melhoria para operações futuras dentro de aglomerados urbanos.

Fonte | Fotos: Operacional