Em 2001, a Rússia fechou a base em Lourdes, em Cuba, por causa da falta de orçamento e demandas de Washington. Agora, há rumores de que o governo russo se prepara para reabrir a base, embora o presidente Vladímir Pútin negue as informações.
Localizada a 250 quilômetros da costa dos EUA, a base de inteligência serviu durante a época da guerra fria para controlar as comunicações de rádio e telefone em uma parte significativa do território do inimigo potencial.
As informações, publicadas pelo jornal “Kommersant”, sobre a reabertura do centro de inteligência eletrônica nos arredores de Havana, foram desmentidas pelo presidente da Rússia, Vladímir Pútin. O Ministério da Defesa e o Estado-Maior Geral do exército russo ainda não comentaram oficialmente a informação.
O presidente russo explicou que o país não tem planos para a renovação do trabalho na base. “A Rússia está pronta para resolver a questão da capacidade militar sem esse componente”, disse Pútin. “As relações com Cuba são muito boas e têm um grande fundamento histórico”, completou.
Segundo Pútin, as negociações com Cuba terminaram durante a última visita presidencial a Havana. Durante a visita, Pútin declarou que Moscou vai perdoar 90% da dívida cubana, cerca de US$ 32 bilhões. O centro de inteligência eletrônica em Lourdes funcionou entre 1967 e 2001.
A decisão de voltar para Cuba poderia ser relacionada com o aumento do orçamento russo e com agravamento das relações com os Estados Unidos. “As nossas relações com os EUA, se deterioraram muito após a crise na Ucrânia”, diz um funcionário que participou das negociações com Cuba. “Na verdade, as relações russo-americanas nunca foram boas, com exceção de alguns períodos.”
Histórico
As instalações em Lourdes compunham o Centro da Inteligência Eletrônica soviético mais poderoso no exterior. A base permitiu realizar tarefas de espionagem de maneira muito eficaz para o Departamento Central de Inteligência do Estado Maior, para a Direção de Inteligência de Sinais de Rádio da Agência Federal de Informações e Comunicações Governamentais e Informações do Presidente da Federação Russa (FapsiI, na sigla em russo) e para o Serviço de Inteligência Externa e Frota Marítima Militar (para comunicações com submarinos).
O presidente de Cuba, Raúl Castro, disse que, graças à base em Lourdes, os serviços de inteligência russos obtiveram até 75% de todas as informações sobre os Estados Unidos. A base, localizada a cerca de 250 quilômetros da costa dos EUA, permitiu controlar uma parte significativa de comunicações no território do “inimigo potencial”.
Movimentação
De acordo com várias fontes, o número de funcionários russos que vão trabalhar na base será menor do que na época soviética. No passado, cerca de 3.000 especialistas russos trabalharam na base. As tecnologias modernas de inteligência eletrônica são muito mais avançadas do que nos tempos soviéticos, por isso não existe a necessidade de enviar tantos especialistas para Cuba.
Os custos do possível retorno dos militares e especialistas russos a Cuba ainda são desconhecidos. Até 1992, Moscou utilizou as instalações gratuitamente.
Em novembro de 1992, foi assinado um acordo sobre o Centro de Inteligência Russo no território da República de Cuba, de acordo com a qual Moscou alugava as instalações até novembro de 2000 e prometia pagar US$ 90 milhões em 1992, US$ 160 milhões em 1993, 1994 e 1995 e US$ 200 milhões em 1996, 1997, 1998, 1999 e 2000.
Grande parte do montante não foi pago em dinheiro, mas em fornecimento de alimentos, madeira, combustível, produtos petrolíferos e equipamento militar. Além disso, Cuba tinha acesso às informações relacionadas com sua segurança no país obtidas pelo centro russo.
Em julho de 2000, a Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA aprovou uma lei sobre a confiança e a cooperação russo-americana, que proibiu à Casa Branca reestruturar a dívida da Rússia antes do fechamento do Centro de Inteligência russo em Cuba.
Em 2001, o governo da Rússia tomou a decisão de abandonar Lourdes (e mais tarde a base marítima militar de Cam Ranh, no Vietnã). Em fevereiro de 2002, os últimos especialistas russos deixaram as instalações. Mais tarde, parte da infraestrutura do centro se tornou Universidade de Tecnologias da Informação.
“O retorno para a base de Lourdes é mais do que justificado”, diz o especialista militar e coronel Víktor Murajóvski. “A eficácia da inteligência militar russa é bastante limitada. A proximidade do centro aos Estados Unidos permitiria trabalhar independentemente da inteligência espacial.”
De acordo com o ex-diretor do Serviço de Inteligência Externa, general Viatcheslav Trúbnikov, “Lourdes permitiu ouvir todo o hemisfério ocidental. A saída dos russos de Cuba teve um impacto negativo sobre o controle sobre processos que ocorrem neste território”.
“Para a Rússia, que defende sua posição na comunidade internacional, essa base seria tão importante como para a URSS”, completou.