No Dia do Agente da Inteligência Militar, que foi celebrado na ultima quarta-feira (5/11), a Gazeta Russa apresentou as quatro operações mais conhecidas da unidade secreta da estrutura da inteligência militar – a unidade de operações especiais do GRU (sigla russa para Departamento Central de Inteligência).
Manobras na Espanha
Em 1936 eclodiu a guerra civil espanhola. O governo republicano legítimo encontrava-se isolado. Na qualidade de aliado, a Espanha contava apenas com a URSS, que a ajudou na luta contra os fascistas. Nessa época, o governo soviético criou um destacamento de forças especiais para efetuar manobras de diversão na Espanha. Em sua essência, esse destacamento viria a ser o antecessor do atual GRU.
A operação com maior ressonância do destacamento russo foi a destruição do trem com o comando da Divisão Aérea Italiana nas proximidades da cidade de Córdoba, no início de 1937. O trem de oito vagões foi atingido por uma mina e acabou caindo precipício abaixo.
Houve também outras manobras de diversão conduzidas com sucesso pelo destacamento em questão durante os combates na Espanha, entre as quais está a explosão de um trem com munições e o assalto a uma propriedade que abrigava um batalhão de metralhadoras dos franquistas.
Após a derrota dos republicanos, parte desse destacamento tomou o navio para a Argélia e de lá rumou de volta para a URSS. É importante salientar que quatro desses ex-membros dos batalhões de operações especiais participariam posteriormente em atividades de guerrilha em Cuba, sob a liderança de Fidel Castro, no final dos anos 1950.
Homens-rã na Nicarágua
A Marinha também tinha seu batalhão de operações especiais GRU na forma de um esquadrão especial de mergulhadores que eram, ao mesmo tempo, agentes da inteligência e operativos com o mais alto nível de preparação para ações militares e manobras de diversão. Essa estrutura surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Otan já possuía unidades similares ao seu serviço.
Esses mergulhadores foram enviados para operações especiais logo em seguida. No período entre 1967 e 1991, trabalharam em Angola, Etiópia, Vietnã, Coreia, Egito, Cuba e Nicarágua. Eles andavam armados com facas e fuzis que disparavam debaixo de água balas capazes de matar um homem a uma distância de 10 a 15 metros.
No entanto, eles realizaram operações bem “comuns”, nas quais não havia a necessidade de sacar armas. O ex-comandante de primeira ordem dos homens-rã militares, já na reserva, Iúri Pliatchenko, narrou em primeira pessoa o dia a dia dos homens-rã militares ao historiador russo Aleksandr Kolpakidi:
“Em 1984 não tivemos que descer às águas da Nicarágua. A nossa equipe de especialistas se ocupou apenas de trabalho puramente analítico. O que esperavam de nós eram recomendações: queriam saber se aquela região era ou não navegável. As explosões provocadas por minas tiveram grande ressonância em todo o mundo, e o nosso aliado da época estava praticamente sob bloqueio. Descobrimos rapidamente que as minas de produção artesanal eram lançadas de barcos tipo ‘piranha’, que se assemelhavam aos nossos botes de fundo liso. Demos indicações aos nicaraguenses de como combater esses lançamentos e como converter rebocadores convencionais em caça-minas. Depois da nossa partida não explodiu mais nenhum barco.”
Assalto ao Palácio de Amin
Nem todas as operações do GRU foram silenciosas e sem derramamento de sangue. A mais famosa operação das forças especiais da inteligência militar aconteceu no Afeganistão, durante o assalto à residência do secretário-geral do Partido Democrático do Povo do Afeganistão, Hafizullah Amin, a quem a liderança soviética decidiu eliminar e substituir por um homem mais leal à URSS.
Juntamente com o batalhão de operações especiais da KGB, a inteligência do GRU também participou dessa difícil operação de combate, formando o chamado “batalhão muçulmano”, para o qual foram cuidadosamente selecionados agentes do GRU de origem tadjique, uzbeque e turcomano, por falarem farsi. O batalhão foi secretamente introduzido na guarda do palácio de Amin. Quando o ataque ocorreu, eles foram de grande ajuda para as outras unidades. A Operação Shtorm-333 foi bem-sucedida, e Amin, morto. As forças das GRU perderam sete homens nessa operação.
Campanha tchetchena
As forças do GRU participaram de operações especiais não só no exterior, mas também na Rússia. Por exemplo, na primeira campanha tchetchena de 1994-1995 eles estiveram envolvidos tanto em trabalhos de inteligência, como diretamente nas equipes de assalto. As forças terrestres não conseguiam tomar Grózni por causa do seu treinamento militar extremamente fraco, e as forças especiais foram então acionadas para ajudar. Uma vez que a principal função desta unidade era operações de inteligência e manobras de diversão, ela acabou tendo a maior quantidade de perdas humanas.
No entanto, após a tomada de Grózni, a elite do GRU continuou ocupada com seus objetivos militares mais imediatos: fornecer às tropas no terreno dados sobre os posições dos combatentes, muitos dos quais chegavam à Tchetchênia vindos da guerra do Afeganistão, de modo que as suas táticas tradicionais de guerra já eram bem conhecidas da inteligência militar russa. Devido a isso, as forças especiais do GRU foram mais eficazes que todas as outras unidades na guerra da Tchetchênia.
Não são todas as operações de combate da unidade de inteligência militar que têm uma aura romântica especial por causa de seu secretismo e sigilo. No total, o GRU enviou suas tropas para duas dezenas de países na Ásia, América Latina e África. No entanto, os arquivos destas operações não serão abertos tão cedo.